Plano de Maximização do Aeroporto Humberto Delgado (parte 8)

Depois de vários artigos em que debatemos como seria possível aumentar e maximizar a capacidade do Aeroporto de Lisboa, chegou à altura de fazermos um balanço dos vários impactos ambientais inerentes a todas estas propostas. 

Aumentar a capacidade o Humberto Delgado traria impactos na qualidade do ar e no aumento da poluição sonora, isto é inegável. No entanto, não nos devemos resumir a análises simplistas do problema, como infelizmente é comum vermos nas discussões públicas sobre este tema do Aeroporto. 

Apesar de o Aeroporto ser grande gerador de ruído na cidade, há que ter em conta os grandes avanços que têm sido conseguidos pela indústria da aviação ao nível da redução do ruído gerado pelos motores dos aviões. Para exemplo, aqui está um vídeo que exemplifica a enorme diferença de ruido entre a antiga geração do Airbus A320 (CEO) e a nova geração (NEO). Note-se que a os aviões da família A320 constituem uma parte muito significativa dos movimentos no Aeroporto de Lisboa. 

Além dos avanços que têm sido alcançados no domínio dos motores, a proposta de prolongamento do taxiway U até ao final da Pista 21 também teria um impacto muito positivo ao nível da redução de ruído sobre a cidade de Lisboa. O fim das descolagens do taxiway U5 significaria que os aviões já sobrevoariam Lisboa em maior altitude e que (devido ao maior comprimento de pista disponível) não teriam de utilizar tanta potência para descolar. 

No entanto, é impossível evitar medidas mitigadoras sobre a cidade como a melhoria da insonorização de alguns edifícios que ficam diretamente por baixo da rota de aproximação da pista 03. Esta contrapartida, apesar de não eliminar por completo o ruído, já tem um impacto muito significativo e tem sido requerida em vários contextos de expansão aeroportuária na Europa. 

No que toca à poluição do ar, as novas gerações de motores também apresentam melhorias muito significativas não só em termos de poupança de combustível como de emissões de gases poluentes. Os motores CFM Leap 1A que equipam o A320 Neo consomem menos 15% de combustível que os seus antecessores. 

Airbus A320 Neo da TAP

Nesta questão é importante referir também que a principal operadora em Lisboa, a TAP, tem renovado a sua frota substituindo modelos mais antigos com quase 20 anos de operação por aviões mais recentes e eficientes da geração Neo. Uma vez que a TAP por si só tem metade do tráfego da Portela, estas alterações podem parecer pequenas mas revelam-se significativas dada a escala dos movimentos da TAP neste aeroporto. 

Mas eu sei o que o caro leitor deve estar a pensar. Todos estes avanços tecnológicos são muito interessantes e positivos mas ainda assim não anulam por completo os grandes impactos que o Aeroporto tem sobre a cidade. Então aí só me resta fazer a derradeira pergunta: e qual é a alternativa? 

Construir um novo aeroporto longe da cidade de Lisboa com os enormes impactos ambientais que acarreta a construção de uma cidade aeroportuária? Onde os aviões vão continuar a poluir à mesma e a uma distância que fará disparar o consumo de combustível necessário para aceder ao Aeroporto? 

Não podemos medir as emissões poluentes geradas por um Aeroporto apenas pelas emissões provenientes do tráfego de aviões. É preciso ter em conta as emissões necessárias para a construção de uma gigantesca infraestrutura como um Aeroporto bem como dos seus acessos e é preciso ter em conta as emissões adicionais provocadas pelas deslocações casa/cidade-aeroporto maiores. 

A gigantesca cidade aeroportuária planeada para o Campo de Tiro de Alcochete em 2008

É aqui que está a questão fundamental que torna o aumento de capacidade da Portela uma solução atrativa mesmo do ponto de vista ambiental. A maior parte da infraestrutura já está construída, as deslocações Lisboa-Aeroporto são muito curtas, há acesso à rede de Metro e oportunidade de ligação à rede ferroviária nacional. 

Infelizmente é impossível mitigar por completo os efeitos nefastos do tráfego aéreo sobre a cidade de Lisboa, mas é inegável que existem também vantagens ambientais na expansão da Portela em relação a outras opções. Ao contrário do que tem sido feito nos últimos 30 anos, não podemos analisar o problema de forma superficial limitando-nos à experiência de ver aviões a sobrevoar Lisboa. Há que analisar todas as formas de poluição associadas a uma infraestrutura aeroportuária. 

Com esta reflexão final, termino esta longa série de artigos sobre a Maximização do Aeroporto Humberto Delgado. Ao longo destes artigos procurei contribuir de forma positiva e construtiva para uma discussão que se arrasta há décadas no nosso país e que infelizmente é dominada por visões desfasadas da realidade e análises superficiais dos problemas. 

Expandir a Portela é uma opção pragmática, ambientalmente consciente que permite a Lisboa e a Portugal crescer. Obrigado. 

Comentários

Mensagens populares deste blogue