Montijo, e agora? (parte 1)

A semana passada tivemos importantes desenvolvimentos sobre o futuro aeroportuário em Lisboa. Uma proposta do PAN que obriga o Governo a realizar uma Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) sobre a expansão da capacidade aeroportuária de Lisboa, foi aprovada. E agora, o que acontece? 

Em primeiro lugar é preciso perceber o contexto em que estamos atualmente. A pandemia de Covid-19 atirou a indústria da aviação para a maior crise da sua história. Grandes companhias aéreas por todo o mundo tiveram de ser resgatadas pelos seus respetivos Governos nacionais e ninguém sabe ao certo quanto tempo será preciso para que os valores de tráfego cheguem aos valores de 2019. E isso será apenas a evolução da procura, porque os efeitos económicos nas companhias aéreas serão sentidos, provavelmente, por mais 10 anos. 

Ora, Portugal não foi exceção. A TAP, principal operadora em Lisboa, que já antes da pandemia estava numa posição frágil, foi arrasada pela queda de tráfego e teve de ser "ligada às máquinas" pelo Governo para conseguir sobreviver. Pela frente, a TAP enfrentará um processo de restruturação duríssimo que obrigará a uma redução da frota e a despedimentos massivos. 

Com toda a situação da TAP, o país caiu na real. Percebemos que Lisboa não está em condições de ser um grande hub global como muitos sonharam. A procura interna é modesta no nosso país (essencial para alimentar qualquer hub) e só conseguimos ser realmente competitivos no longo curso no Brasil, restantes PALOP e África ocidental. Na América do Norte, mercado onde existe uma concorrência brutal, a TAP via-se obrigada a praticar preços pornograficamente baixos para captar passageiros de e para a Europa. Com exceção de alguns pontos onde haja maior concentração de diáspora portuguesa, as rotas na América do Norte serão maioritariamente long and thin (longo curso de procura reduzida). 

Em cima de tudo isto, o turismo (cujo boom foi uma das razões pelas quais a Portela atingiu a saturação nos últimos anos) também sofreu imenso com a pandemia e não sabemos quanto tempo demorará a regressar a valores de 2019. 

O que podemos deduzir de tudo isto? Nos últimos 20 anos o país andou claramente a sonhar com grandes hubs que simplesmente não correspondem à nossa realidade e agora temos a principal operadora de Lisboa a lutar pela sobrevivência e o setor do turismo de rastos. Isto, trará obviamente consequências para a questão do aumento da capacidade aeroportuária de Lisboa, que irei explorar num próximo artigo.  

Tomás Ribeiro

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