Plano de Maximização do Aeroporto Humberto Delgado (parte 8)

No último artigo desta série falámos sobre os acessos em Metropolitano ao Aeroporto de Lisboa mas não chegámos a abordar um tema que recentemente chegou às manchetes dos jornais: a ligação ferroviária ao Humberto Delgado. Há que responder a duas questões. Vale a pena? E, se sim, em que moldes deve ser feita?

A resposta à primeira questão não é simples. De facto, dadas as acessibilidades atuais (e futuras) ao Aeroporto em Metropolitano, pode parecer difícil justificar o investimento considerável numa ligação ferroviária. Especialmente tendo em conta que a Gare do Oriente já está muito próxima do Humberto Delgado, a 2 estações de Metro de distância. 

Estação de Metro do Aeroporto

Mas há que ter em conta um aspeto importante, o Metropolitano é um meio de transporte excelente para o meio urbano mas  com pouca abrangência para lá dos limites do concelho de Lisboa. O único meio de transporte (além do rodoviário) que tem abrangência a praticamente toda a AML é o comboio suburbano. Aliás, a área de captação de passageiros do A.H.D. vai muito para além da região da Grande Lisboa. Por isso, seria interessante ligar o Aeroporto de forma direta à rede ferroviária nacional (RFN) permitindo assim que passageiros tanto das linhas suburbanas da AML como oriundos dos serviços de longo curso pudessem chegar ao Humberto Delgado sem ter de fazer transbordos incómodos e penalizadores na Gare do Oriente. 

Uma vez que esta justificação da eliminação do transbordo por si só, pode ser escassa para mover um investimento de envergadura considerável, é necessário realçar que existe a oportunidade de inserir este projeto, num outro de maior escala: a nova entrada da Linha do Oeste em Lisboa (também conhecida como Variante da Malveira). Em vez de fazer entrar essa nova linha pelo Vale do Trancão, seria de considerar fazer entrar essa Linha por um túnel vindo da zona de Frielas que passasse no Aeroporto de Lisboa. 

Desta forma, o investimento na ligação ferroviária ao Aeroporto seria melhor rentabilizado, aliás seria apenas uma primeira fase de um projeto maior. 

E agora há que responder à segunda pergunta: em que moldes deve ser feita. A IP, quando estudou esta possível ligação, considerou 3 hipóteses de traçado, todas maioritariamente em túnel. Uma mais simples, ligando à Linha de Cintura na zona do Parque da Bela Vista, outra mais complexa ligando à Linha do Norte depois da gare do Oriente, e por último, uma mais longa que ligaria à Linha do Norte na zona da foz do rio Trancão em Sacavém. 

Opções estudadas para ligar a RFN ao Aeroporto de Lisboa e possível nova entrada da Linha do Oeste

A melhor solução de todas estas acabar por ser curiosamente, a mais barata e simples, ou seja, a opção da Bela Vista que chegou a ser estimada em 74 milhões de euros. Por vários motivos: permite que comboios vindos da Linha do Norte parem na Gare do Oriente e no Aeroporto, permite que serviços oriundos da Linha do Sul e das Linhas suburbanas ocidentais da AML (como Sintra e um dia Cascais) parem nas principais estações do centro de Lisboa como Entrecampos antes de seguirem para o Aeroporto, e permite um melhor alinhamento da estação do Aeroporto para um dia se poder executar o túnel até Frielas. 

Além de tudo isto, é de notar que a existência de ligações ferroviárias diretas aos principais aeroportos é perfeitamente banal e já se começa a tornar o standard. Poderia dar os exemplos de Madrid, Paris, Londres, Geneve, Zurique, Berlim, Frankfurt, Munique, Viena, Amsterdão, Roma, Copenhaga... a lista é muito extensa e demonstra a importância que uma ligação ferroviária direta aos grandes aeroportos pode ter na promoção da mobilidade sustentável e transição modal para transportes mais amigos do ambiente. Ter o Humberto Delgado ligado diretamente a locais tão distintos como Corroios, Queluz, Alverca, Sintra, Coimbra, Pombal, Santarém, etc traria ganhos de competitividade enormes para o Aeroporto aumentando a sua área de abrangência e captação de passageiros. 

Comboio Alfa Pendular

Na nona e última parte desta série de artigos iremos abordar os impactos ambientais de todas estas propostas sobre a cidade de Lisboa.


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